terça-feira, 17 de março de 2009

BURRO VELHO

Não há dúvida, é oficial, burro velho não aprende línguas!
Saibam que decidi voltar a estudar. Sei que não fará muito sentido, mas há uns tempos recebi uma carta em que me informavam grosso modo que com pouquinhas cadeiras, graças ao abençoado processo de Bolonha, poderia ficar com mais uma licenciatura. Claro que a situação me cheirou a papel queimado, mas como era a meu favor, deixa lá ir ver o que é isto.
Com a minha habitual chico-espertice, característica tão vincada da alma lusa, lá pedi aos gajos que me fizessem as contas, e somando e subtraindo as muitas cadeiras que fiz ao longo dos vários cursos que frequentei (curiosamente cheguei a acabar alguns), chegaram à conclusão que só precisava de fazer uma cadeira semestral.
Esfreguei as mãos, paguei uns trocos e pensei cá para mim que estava no papo, não podia ser assim tão difícil ir a quatro horitas por semana, fazer um exame (ou três, que trabalhador estudante tem direito a épocas que nunca mais acabam, portanto venceria nem que fosse pelo cansaço) e sacar um dezito que nesta altura já me contento com pouco, a idade não perdoa. Aliado a isso tudo, pensei que como bónus a turma teria umas catraias giras para pelo menos alegrar as vistas e que assim já não se perderia tudo.
Se fosse católico, diria que Deus castiga. Como sou supersticioso, alguém invejoso me rogou uma praga!
Para começar, enfiaram-me as aulas à sexta-feira, o que me estraga uma jantarada por semana e uma noite de copos, que depois de gramar aquilo não há paciência para mais nada.
Quanto às moças, até podem ser giras mas já trato a generalidade por minha senhora e as restantes por minha menina. Também devia ter-me lembrado que já quando era novo não eram, regra geral, nada de parar o trânsito, mas com a idade a memória atraiçoa-nos. Qual esperança nas futuras gerações, senilidade, é o que é...
Para cúmulo, para além do exame a cadeira tem um trabalho individual e obrigatório que ainda me vai lixar uma porrada de sábados, para além de ter de olhar para montes de tralhas que já tinha apagado do disco duro para deixar espaço para as coisas realmente importantes (catraias, bola e essas cenas de gajos) e correr o risco de perder um jogo do FCP que as aulas são de comparência obrigatória (fascistóides, quando me lembro que fiz cadeiras sem ter conhecido o professor e fui feliz na mesma, ou até mais...).
Mas não é tudo mau, já aprendi algumas coisas interessantes, sendo que a mais importante é que não vale a pena tirar cursos de gestão. Já dou o dinheiro por bem empregue porque sempre tive essa teoria mas dá um certo gozo ouvi-la da boca dum gajo que é professor doutor. Acrescenta credibilidade à coisa. Podia ser motivo para pedir reembolso da guita, mas eu aplaudo de pé!
Na verdade, quando eu dizia isso há alguns anos atrás até me batiam, quando sai da boca do gajo tomam apontamentos, essa cambada de lambe-botas.
É o preço de ser um visionário, é o que é...(parece um bocado do Calimero, mas é verdade).
Na realidade, dizem que a generalidade dos métodos e modelos que estudei estão ultrapassados (compreende-se, às vezes até eu me sinto ultrapassado e os gajos que inventam estas patacoadas têm de continuar a vender livros, senão como alternativa têm de ir bulir e mandar algumas empresas ao charco, Deus que nos livre), porque se concluíu que os métodos de previsão eram ineficazes e ninguém conseguia prever coisa nenhuma até mesmo no curto prazo, pelo que foram substituídos por orientações gerais do tipo missão da empresa (eu chamo-lhe chavões geralmente disparatados, mas admito que tenho tendência para a simplificação excessiva), que permitem direccionar as pessoas e reorientar rapidamente a empresa em caso de mudanças macroeconómicas súbitas (porra, há gajos que nem com um mapa colado na testa encontram a casa de banho, quanto mais redireccionar empresas com orientações gerais).
Não sei se há prémio Nobel do óbvio, mas o gajo que chegou a esta conclusão merece-o de certeza!
O único senão é saber que tudo o que estou a aprender neste curso, com elevado sacrifício pessoal e avultados custos para a economia real (os fabricantes de gin e donos dos bares desceram significativamente as receitas de sexta feira), vai daqui a dois ou três anos ser dado como ultrapassado, porque um guru qualquer vai escrever um livro a advogar que o destino das empresas se deve decidir através de moeda ao ar, representando coroa avançar e cara retrair, ou viceversa, não tenho bem a certeza, e isso, por muito que melhore o funcionamento actual das nossas empresas, não me parece que comporte matéria suficiente para um curso de gestão!

3 comentários:

MTOCAS disse...

Começaste divinalmente, expressão tão característica da tua pessoa !
misturada "Com a minha habitual chico-espertice" (não a minha diga-se!)....

Como bónus ter catraias boas? Ainda se fossem docentes de meia-idade, para estarem ao nível…
Mas não é tudo mau?!?

com isto tudo....sempre vais deixar de beber “tanto” :-)
e acrescentar mais sabedoria.
Quem sabe não viras GURU. GURU "MS"

p.s.: Amei foto !!

MS disse...

Não falei em catraias boas!
Gajas boas ou catraias giras, nunca gajas giras nem catraias boas.
É uma cena cromossomática dos homens e gajas boas tem de ser a bold, à boca cheia.
Como isto é um blogue politicamente correcto de cariz vincadamente familiar, tenho de ter cuidado na escolha das palavras, nada de breijeirices!

Eduardo Santos Costa disse...

Espero que não tentes o Erasmus em busca das Musas perdidas.