quinta-feira, 19 de março de 2009

MAS AFINAL QUEM É QUE JULGAM QUE SÃO?

As pessoas andam todas trocadas da caixa córnea.
A situação já há muito que está para lá de Bagdad.
Não sei de que é que se convenceram, mas cada vez mais acho que somos o país com mais aspirantes a advogados amadores. E com mais direitos e menos deveres.
Em cada tuguinha, mesmo que ainda em projecto, está já um jurista perfeitamente ciente dos seus direitos, reais ou imaginários mas geralmente disparatados e no mínimo surrealistas.
É fantástico! Este povo pode não saber falar, pode usar palavras compridas cujo significado desconhece mas que soam bem, totalmente fora do contexto, mas invocam os direitos e a lei com uma facilidade aterradora. E quando são contrariados vão para casa e regressam no dia seguinte com expressões tipo: - "O senhor tem de me dizer qual é o artigo que diz isso porque estive toda a tarde à procura no código civil e não encontrei". Isto vindo de gajos que para assinar marcam o dedo a seguir à cruz.
Acho que o que queriam dizer é que estiveram à procura do código civil e não encontraram. É um livro, não sei se está a ver, é normalmente em papel, envolto por uma capa, geralmente mais dura um bocadinho e dentro tem impressas umas coisinhas que parecem montes de pequenos insectos alinhados em filinhas e que se chamam letras.
Alguém me dê pachorra que eu já não tenho nenhuma!
E os critérios de exigência? Fantásticos.
Acho que toda a nação se transformou naqueles broncos que antigamente, quando andavam pela primeira vez de avião já se julgavam o Xá da Pérsia e tratavam a hospedeira por moça, davam ordens a berrar, sem se fizer o favor nem muito obrigado, do tipo traz-me um scotch que eu paguei bilhete e tenho direito, ou arranja-me já uma almofada ó boazona e outros despautérios do género, enquanto a tentavam apalpar e riam de forma a acordar todo o avião.
Só que agora são assim em relação a tudo, Deus os abençoe, é o lado negro da democracia.
Estão aqui para ser servidos, ou melhor, já deviam ter sido, estão à espera de quê?
E o mais giro é que se criou a idéia que pedindo o livro de reclamações tudo se resolve a contento, por mais disparatada que seja a exigência, portanto se um gajo tem de esperar mais dois minutos na fila da padaria, pede o livro que já vai lixar o sacana do padeiro porque demorou a fazer o troco ao cliente anterior, o que nos atrasou e é inadmissível. Afinal eu pago pelo pão.
As coisas estão mais ou menos neste ponto e já se conseguiu vulgarizar o uso do livro ao ponto de já nem mesmo as entidades a quem é dirigida a queixa levarem a coisa muito a sério.
E isso é mau porque à custa dos pacóvios prepotentes que neste momento são mais que as mães, ficam sem tratamento sério as queixas dos gajos que realmente são pertinentes.
Por outro lado, acho que os gajos que trabalham nas entidades ditas competentes já devem ter matéria para fazer uma enciclopédia de anedotas, o que sempre permite alegria no trabalho.
Enfim, é um pequeno preço a pagar pelo maior bem da democracia. E como parece que a educação melhora a olhos vistos, mais umas cem gerações e a questão estará ultrapassada.

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