terça-feira, 30 de setembro de 2008

A CRISE DO SISTEMA É UM PROBLEMA

Já se notam cá na terrinha as implicações da crise do sistema financeiro americano.
Parece que os bancos já não têm guita e vai daí, a rapaziada que costumava assaltar bancos, multibancos e carrinhas de transporte de valores com alguma regularidade vê-se a enfrentar o espectro do desemprego.
Claro que, como diz o outro, em chinês a palavra crise escreve-se com dois símbolos, um que significa perigo e outro oportunidade. E como já tive ocasião de escrever, sempre fomos uns gajos desenrascados e até ocasionalmente empreendedores.
Vai daí, alguma dessa rapaziada do fananço, para continuar no ofício, ou se virava para a política ou diversificava o mercado alvo.
E mesmo para a maioria dos ladrões existem limites a partir dos quais se recusam a baixar!
Claro que o mercado está a encolher, com a rapaziada de uma maneira geral entre o desemprego e a miséria e com as bombas de gasolina em que ninguém abastece mais do que litro e meio, porra, há que dar largas à imaginação para se poder fazer uns trocos com um assaltito.
Algumas mentes mesquinhas podiam sugerir trabalho honesto, mas vão vocês tentar arranjar emprego neste rectangulo à beira mar e vejam se é fácil...
E a rapaziada, até com um certo sentido de humor, diversificou.
E gozo que possa parecer, há uns dias, enquanto o porta-voz do partido do governo em conferência de imprensa informava que este país não tem problemas de segurança, assaltavam-lhe a casa, ao que parece na margem Sul. Falem lá em justiça poética.
São estas situações que por vezes me fazem questionar o meu ateísmo.
Também o procurador geral da república (aqui fiz um esforço para não escrever das bananas e quase que conseguia), que anunciou planos, medidas e task-forces contra o crime, viu a sua casinha de férias assaltada.
Mas o prato forte foi hoje. Se não fosse o meu pai a contar-me eu não acreditava, mas ele não brinca com assuntos sérios.
Assaltaram a judiciária, mais propriamente a direcção de combate ao banditismo e roubaram uma série de material. Se não fosse tão sério ainda me estava a rebolar a rir.
Há uma frase que sempre me irritou, mas acho que aqui se aplica como uma luva:
POR ESTE ANDAR, ONDE É QUE ISTO VAI PARAR?
Apesar de no combate à criminalidade, ao contrário do que diz o governo da nação, haver dificuldades evidentes e até alguma desorientação nítida (e não vou discutir se é falta de formação, preparação, recursos humanos, equipamentos, financiamento, conjuntura, o carro não pegar de manhã, o gato estar constipado, o café estar frio, a patroa estar com os azeites e provavelmente um pouco de todas estas coisas juntas), a segurança, pelo menos rodoviária, tem obrigação de aumentar a olhos vistos. Isto tem de ser uma coisa de cada vez que não há orçamento para tudo.
É que lá a passar multas, continua a ser um despacho, aí não há falta de meios.
E até trazem o terminal multibanco ao carro, que assim não carregam dinheiro e torna-se mais seguro no caso de serem assaltados.


segunda-feira, 29 de setembro de 2008

A CORRIDA AO OURO NEGRO

Uma das coisas que mais dificuldade tinha em compreender, juntamente com o conceito de série em análise matemática (acho que isso ainda não entendi, se bem me lembro era uma coisa tipo soma de sucessões que se tinha de provar se era divergente, convergente ou o raio que as parta que não interessava nem ao menino Jesus), era aquela tradição nacional da corrida às bombas que ocorria nos saudosos tempos em que os combustíveis tinham dia e hora marcada para aumentar, o que acontecia uma a duas vezes por ano na pior das hipóteses.
Nas vésperas dessas alturas, havia centenas de carros em fila durante horas a gastarem dois euros de combustível para poupar euro e meio num depósito cheio e condutores a darem cabo das meninges a discutir com a patroa enquanto ela fazia tricot no banco do pendura, a ouvir o Sala na Renascença, em vez de ir preparando os garrafões para atestar que tem de se aproveitar enquanto se pode.
Posso estar a meter o pé na argola, que já lá vão uns anitos e se calhar ainda nem havia euros, mas até hoje sempre pensei que esta treta era uma ilustação do paradoxo de Zenão, que não era significativo, porque, no limite, iria sempre ser preciso meter gasolina ao novo preço. Mas era uma tradição e a tradição deve ser respeitada, senão o que será da cultura popular?
Hoje em dia, fruto da mudança dos tempos, o preço varia frequentemente e curiosamente nos dois sentidos, se bem que lixe mais vezes o mexilhão, e provavelmente mais vezes do que as justas.
E o português teve uma epifania e criou seu próprio mercado de futuros, para se agarrar como pode à tradição ancestral!
Há uma petrolífera que fixa os preços às Segundas feiras. Há pessoas que andam toda a semana a verificar as cotações do Brent, qual grandes investidores, para tentarem adivinhar o sentido em que vai variar o preço. Se apostam na subida, é vê-los a atestar Domingo à noite. No caso inverso é tudo para a bomba na Segunda. Chegam a arriscar duas descidas consecutivas e aí, em vez de atestar na Segunda, metem só o estritamente necessário para chegar à Segunda seguinte.
E escrituram perdas e ganhos, qual revisor oficial de contas.
Digam lá que não somos um povo imaginativo, que na desgraça consegue inventar um passatempo com um custo, na pior das hipóteses de oportunidade e na melhor das hipóteses com um lucro que dá para uma mini e uma bifana por semana.
Só me admira como é que com tanto expediente continuamos uma cambada de tesos!
Bom, agora vou ver como fechou hoje o Brent...

sábado, 27 de setembro de 2008

COISAS QUE ME INTRIGAM


Toda a gente, a conduzir ou como pendura, já esteve várias vezes preso em engarrafamentos, a não ser que seja de outro planeta e aí tenho dúvidas que possa ser classificado como gente, no sentido estrito da palavra.
Até aí, nada de extraordinário.
No entanto, como observador atento que tento ser, ultimamente tenho reparado numa coisa nos engarrafamentos que me tem intrigado.
Independentemente de raça, credo, sexo, idade e estatuto social,
porque raio é que toda a gente, quando está sozinha no carro, nas filas de trânsito, passado algum tempo de pára arranca, começa a tirar macacos do nariz?
Acho que não é impressão minha, é como o Tintim, funciona dos 7 aos 77 anos. Se o trânsito parar mais do que 30 segundos, lá temos o dedito dentro da narigueta.
Até pode não fazer sentido, mas por favor estejam atentos e vão ver que é verdade.
E fica aqui o meu alerta:
O RAIO DOS VIDROS DOS CARROS SÃO NORMALMENTE TRANSPARENTES, PORTANTO TENTEM CONTROLAR-SE QUE NUNCA SE SABE QUEM RAIO É QUE NOS VAI PARAR AO LADO E NÃO É UM GESTO MUITO BONITO!
Dito isto, votos de vias desimpedidas (de trânsito e respiratórias) se isso não constituir um paradoxo.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

QUERO BUZINAR NO CALHAMBEQUE

Hoje foi dia sem carros!
Entre outras cidades, uma das contempladas foi Lisboa. Por acaso já lá morei e posso afirmar que quem se queixa do trânsito no Porto, de certezinha que nunca viveu na capital. E à segunda-feira, fechar parte da cidade aos automóveis é obra. Má, mas não deixa de ser obra!
Esta iniciativa é talvez das coisas mais estúpidas a que já tive oportunidade de assistir, a par com a do gajo que passou a camisa a ferro com ela vestida, mas a essa não assisti, só ouvi contar.
É uma medida puramente demagógica, não resolve nada, apenas serve para empatar a vida às pessoas. E ciclicamente lá se vai repetindo, como aquelas alergias recorrentes que nos incomodam sempre na mesma época do ano.
Sou contra a poluição, naturalmente, mas não sou fundamentalista, como os radicais que agora abundam no nosso burgo e quase advogam o regresso à idade da pedra como forma de a combater (lembro-me sempre daqueles exagerados que há uns anos quiseram sabotar o grande prémio da Alemanha porque para tornar o circuito mais seguro iam ser derrubadas algumas dezenas de árvores no meio da imensidão da floresta negra).
Quem me conhece sabe que detesto conduzir, pessoas de bem não conduzem, fazem-se conduzir. Não, agora a sério, se pudesse já tinha vendido a gabardina de lata há mais que muito tempo. Mas há uma coisa que os iluminados normalmente tendem a ignorar, talvez porque é uma realidade à qual não estão habituados.
É que eu, como muitos outros, tenho necessidade do carro para trabalhar, que ainda não consegui uma empresa que me mande o ordenado para casa sem eu fazer nenhum (e até podia vir por estafeta de bicicleta, que como já disse sou contra a poluição). Já agora, se souberem de alguma, agradeço que se lembrem de mim.
A poluição que um dia sem carros (ainda por cima a chover, isso é que é juntar o inútil ao desagradável) deixa de fazer é marginal, se é que obrigar as pessoas a contornar as zonas proíbidas não vai fazer aumentar as emissões poluentes, o que ainda está por avaliar.
Até podia ser solidário se houvesse uma boa rede de transportes públicos, a preços acessíveis, mas para consultar um horário de transportes públicos é preciso um mestrado em física nuclear (a sério, vão ao site dos STCP e confirmem) e depois, se se conseguir, é tão útil como uma viola num enterro, porque não são para cumprir, são mais a modos que para existirem, porque sim, sei lá, faz sentido haver horários. E para se ir do ponto A ao ponto B, normalmente implica transbordos, interpretações cabalísticas (imaginem um estrangeiro a tentar perceber o funcionamento do andante, que escapa a toda a lógica, com as zonas C não sei quê a corresponderem a títulos de viagem Z não sei quantos, que mesmo quem é de cá tem dificuldade em entender) e de uma forma geral uma paciência infinita, para além de algum dinheiro.
Mas, não se preocupem com essa treta dos carros.
Com o preço dos combustíveis como está, não tarda nada todos os dias serão sem carros.
E o Eng., como grande ecologista que é, já está a tomar medidas de fundo para diminuir a poluição atmosférica e sonora, recorrendo aquela ferramenta chave que é o aumento do desemprego.
Senão vejamos, com o desemprego a aumentar como tem aumentado, não tarda nada não há arame para a prestação e lá vai o carro para o banco, que também não o consegue vender porque já ninguém tem emprego para poder comprar seja o que for.
E quem o tem pago, com a miséria que ganha, não dá para a gasolina e já é uma sorte se não tiver que o vender ao desbarato para pagar a prestação da casa, que o dinheiro não estica.
Ora digam lá que o Sr. Eng não é um visionário!
Por este andar, um dia todos os dias serão sem carros! E já faltou muito mais!

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

A VERDADEIRA NOÇÃO DAS PRIORIDADES

Já todos tiveram de certeza aqueles dias em que se fartam de trabalhar e no fim do dia, tudo espremido não dá meio copo de sumo. Hoje foi um desses dias, cheio de conversas de surdos, de reunião improdutiva em reunião improdutiva, a tentar resolver problemas sem razão de ser, criados por pessoas que não têm mais com que se entreter.
Até estava sem pachorra para escrever, mas ao ver o telejornal, cheguei à conclusão que serrar serrim deve ser uma questão cultural cá do nosso cantinho do Norte de África, portanto deixem-me deitar um bocado de conversa fora.
Parece que há uma crise económica de dimensão mundial, parece que o petróleo está a um preço que vão ter que acrescentar dígitos nas bombas ou converter o indicador de cêntimos em euros, parece que arranjar emprego é mais difícil que o Ricardo fazer uma defesa e com que é que a inteligência nacional anda preocupada?
Se os casamentos entre pessoas do mesmo sexo devem ou não ser autorizados. Parece gozo, mas pelos vistos não é. Serei só eu que acho que há assuntos mais prementes?
Se as pessoas do mesmo sexo querem casar, quanto a mim que casem, qual é o problema? É lá entre eles, desde que não me convidem para o casamento, que eu ando um bocado liso para dar prendas, quero lá saber.
No fundo estamos a falar de um papel com direitos e deveres, porque mesmo sendo ingénuo, suspeito que tudo o resto já se passa e já, logo é lana caprina.
Merece a discussão, ou é para distrair as pessoas do que realmente importa?
Aguardo ansiosamente o ponto de vista da Dra. Manuela Ferreira Leite sobre o assunto, até porque tenho uma aposta a decorrer sobre se a senhora será ou não muda, que por este andar nunca mais resolvo.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

PILHAS DE PROBLEMAS

Provavelmente já aconteceu a todos chegarem a casa em cima da hora de início de um programa de tv (dos poucos que obrigatoriamente começam à hora marcada) que queiram muito ver.
Pessoalmente não sou grande fã da televisão, mas hoje jogou o FCP, queria ver que disso já sou fã e não podia ir ao estádio.
Para os mais arredados destes assuntos realmente importantes, felizmente ganhou 3-1!
Como tinha de ir jantar a casa dos meus pais, aproveitei e vi lá a primeira parte. No intervalo desarvorei a queimar amarelos, para chegar a casa antes do início da segunda parte. Não é por nada de especial, mas um jogo de futebol sabe sempre melhor com os pés em cima do sofá e pese embora todo o tipo de comportamentos degradantes que os meus pais foram habituados a aturar-me ao longo dos anos, pés no sofá é dos poucos que pode fazer a minha mãe expulsar-me pela janela e passar três dias a dizer que eu tenho de sair ao meu pai, a ela não saio concerteza.
E todos sabem que não há pior fúria no inferno que a duma mãe quando alguém se estende, ainda por cima calçado, no novo sofá da sala!
Quando cheguei a casa, a porcaria do comando recusava-se a ligar a caixa mágica, o que facilmente se resolve desligando a caixa da corrente e voltando a ligar (não sei se sabem mas tenho uma costela de engenheiro, o que faz de mim quase tão engenheiro como o nosso primeiro).
Aí surgiu o verdadeiro problema. O último canal ligado não era a Sport TV, pelo que tinha de mudar o canal e a caixa não tem botões (depois querem que um gajo esteja em forma, mesmo que me queira levantar do sofá não adianta nada, a geringonça só funciona com comando e seria realmente estúpido levantar-me e aproximar-me para usar o comando).
Foi quando me surgiram as três questões metafísicas que gostava de partilhar:
-Quem é que se lembrou de inventar aquelas pilhas pequenininhas e que treta de espaço é que aquilo poupa, dado que os comandos são todos mais ou menos do mesmo tamanho?
-Quem é que alguma vez (excepto talvez as mães, essas parece que têm stock de tudo) tem pilhas suplentes em casa, seja para o que for, ainda por cima desse tipo ridículo (parece que se chamam AAA, como o óleo alimentar)?
-Por que raio é que as pessoas, quando os comandos deixam de funcionar, começam a carregar com mais força nos botões e a abaná-los com força?
Estou convencido que a resposta a estas questões pode ajudar em muito o progresso da humanidade, neste primeiro quartel do século XXI.
Bom, para concluir, após abrir meia dúzia de comandos lá consegui um que tinha as pilhas iguais e resolvi o meu problema, depois de rogar algumas pragas ao gajo que inventou as pilhas mais fininhas.
Já agora, para os mais esquecidos, lembro que o FCP ganhou 3-1!

terça-feira, 16 de setembro de 2008

EUROPEUS MODERNOS

Como habitual, importamos!
Importamos bens, serviços, mão de obra, tecnologia, comportamentos.
Não conseguimos produzir, nem mesmo comportamentos autênticos, portanto importamos. E o mais grave é que não nos importamos.
Qualquer dia somos os suecos mais morenos da Eurolândia.
A Eurolândia está para nós como a Disneylândia para os americanos, só que mais ridícula um bocadinho. Basta dizer que lá o presidente é o rato Mickey e cá é o pateta. Mas ambas tendem a standardizar comportamentos e se possível a "normalizar" atitudes, no sentido de formar uma visão politicamente distorcida do "homo correctus".
A mais recente importação foi a proibição de fumar em tudo o que é canto. Consigo perceber e respeitar os direitos dos não fumadores, estou ciente que o tabaco é prejudicial e sei que os campos de concentração são característicos dos países fascistas. E que o segregacionismo já acabou em África, continente menos desenvolvido.
O que eu não gosto nem um bocadinho é que me imponham comportamentos disparatados. Mesmo na Alemanha, país mais rigoroso, ainda existem aeroportos que, considerando que os momentos que antecedem voar são momentos de tensão e que andar de avião implica umas horas sem fumar (a não ser que se seja o Eng.), mantêm cabinas para fumadores. Ora aí está uma verdadeira preocupação humanista. Marginalizar sim, mas não completamente, não são tão radicais como o país escandinavo em que estão a tornar o nosso outrora jardim à beira mar plantado, em que os autocolantes azuis apodrecem nas prateleiras das lojas e os vermelhos vendem como água. Com tantos brasileiros na Bundesliga, querem ver que os alemães se estão a tornar latinos?
Tudo isto pelo meu direito à indignação, considerandos de saúde e de produtividade à parte.
Também não chateio os gajos que estão na rua sem fumar, porque carga de água é que me chateiam se estiver a queimar um cigarrito debaixo de telha?
Será que os fumadores constipando-se morrem mais depressa e custam menos ao estado? Será que os impostos astronómicos pagos sobre o tabaquito ao longo de uma vida são insuficientes para pagar o aumento exponencial dos custos da saúde? Será que o Eng. está preocupado comigo? Se for esta última, tenho razões para estar apreensivo. Porra, o gajo preocupou-se com o país e vejam o estado em que isto ficou.
Uma coisa vos digo:
Não vou deixar de ir jantar e beber um copo com quem quiser por causa disso. Não vou é a qualquer lugar, preferencialmente vou aos do autocolante azul.
Dado que para colar o papelito azul tem de se investir aproximadamente o equivalente ao PIB de um pequeno país, esses audazes precisam e merecem toda a ajuda que se lhes possa dar. Eventualmente, se a companhia for não fumadora e merecer o sacrifício, posso considerar ir, uma vez por outra, aos gajos do autocolante vermelho, se bem que me custa colaborar com pessoas que para estar em conformidade com a legislação investiram 2 € num autocolante.
Mas se for à vez, e normalmente as pessoas sem responsabilidades políticas são razoáveis, acho pior para quem não fume estar confinada a uma sala onde TODA a gente fuma, quando antigamente estaria numa sala onde ALGUMAS pessoas fumavam.
Sinto-me defraudado, porque quando comecei a fumar não era proíbido, até havia publicidade a incentivar, e foi num pressuposto de liberdade que comecei. E porra, sabe-me bem a seguir ao cafézinho! E chateia-me ter que vir para a chuva. E chateia-me levantar da mesa a meio da conversa e deixar a companhia dos outros, ou mais estúpido ainda, deixarmos todos a companhia da mesa para virmos fumar um cigarrito à rua. Noutro dia o restaurante ficou vazio e todos os comensais estavam no passeio (cerca de uma dúzia) a fumar um cigarrito entre a sobremesa e o café. Isto é rigorosamente verdade, se bem que pareça um filme do Woody Allen.
Dado que a lei não deve ter retroactividade, permitam-me a seguinte sugestão:
Inicia-se uma política séria de prevenção ao tabagismo, mesmo que custe umas coroas os gajos da Eurolândia pagam todos contentes. O pessoal que fuma ao dia de hoje, leva um cartãozinho que permite comprar cigarros e fumar em espaços mais ou menos dignos. Os outros gajos que começarem a fumar depois de terem sido avisados que comprem tabaco no mercado negro e fumem à chuva.
Parva que seja a sugestão é no mínimo tão lógica como a actual legislação em vigor!

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

CAI A NOITE NA CIDADE


Há coisas que nunca vou entender na noite do Porto e já ando a fazer pesquisa há mais de 25 anos.
Provavelmente tenho de me esforçar mais.
Em primeiro lugar, nunca percebi muito bem o porquê da psicologia de massas que faz com que toda a gente se desloque para o mesmo sítio ao mesmo tempo. Será um chamamento magnético, como o que faz a agulha da bússola apontar invariavelmente o Norte?
Também me escapa porque é que os sítios novos é que são bons, e como tal alvos da peregrinação conjunta.
Os sítios que agora já não são tão novos, já o foram em tempos, mas estão invariavelmente às moscas. E já foram divertidos, e se calhar ainda seriam se não fosse o abandono a que foram votados.
Para a procura existente, o Porto deve ser a cidade com mais excesso de oferta de espaços nocturnos.
Estou convicto que um bar ou discoteca seria suficiente desde que fosse o último a abrir. Toda a gente vai ao mais recente, portanto para quê complicar?
Também me intriga o porquê dos empresários da noite investirem balúrdios em decorações, algumas até de bom gosto. Parece que correntemente as preferências vão mesmo para um aglomerado literalmente no meio da rua, tipo pickled people, onde para ir ao bar pedir um copo ou se leva tropa de intervençao a abrir caminho, ou se morre à sede, o que num bar é no mínimo caricato mas cada vez mais plausível.
Ainda mais enigmático é ter a certeza que muitas das pessoas ali comprimidas não se estão a divertir minimamente, antes pelo contrário, parecem revestir de uma espécie de espírito de sacrifício solidário e colectivo que consigo perceber durante uma catástrofe natural, mas que tenho dificuldade em entender numa noite de copos que se quer divertida. E basta olhar para a cara das pessoas para perceber que estavam melhor noutro sítio.
Claro que toda esta análise cai por terra com a mudança do clima.
Começando a chover, as pessoas deixam de se aglomerar no meio da rua, para se passarem a aglomerar no mais novo bar a inaugurar.
E aí, vai-se ouvir música, que para mim costumava animar o espírito e alegrar a alma, por muito má que pudesse ser e por gigantesca que seja a minha incapacidade de dançar.
Isso, quer queiram quer não, é uma melhoria sobre o zumbido das mil conversas que decorrem ao nosso lado, que somos obrigados a ouvir mesmo que não nos digam nada, enquanto estamos a evitar enfiar o cotovelo dentro do copo da pessoa que está involuntariamente comprimida contra nós no pandemónio do meio da rua.
Diga-se no entanto que é uma das ruas mais bonitas do Porto, valha-nos isso! E como toda a gente, invariavelmente também lá estou misturado, afinal estão lá todos, para onde queriam que fosse?

domingo, 14 de setembro de 2008

E TUDO O VENTO LEVOU


O problema do homem é ser um animal da hábitos.
Os hábitos, bons ou maus, podem sempre voltar-se contra nós.
Entre as várias rotinas que desenvolvi, uma é cortar o cabelo sempre no mesmo cabeleireiro. Não me perguntem porquê, agora que penso nisso com mais detalhe, acho que tem a ver com localização (fica ao lado do supermercado onde também tenho o hábito de fazer compras) e com o horário alargado (funciona num centro comercial e eu tenho o hábito de fazer estas coisas fora de horas).
Quanto à qualidade do corte, houve uma vez que até gostei. O problema é que trabalham lá várias pessoas. Uma corta o cabelo primorosamente, as outras nem por isso. Não aceitam marcações, pelo que chega-se e é-se atendido por quem estiver mais rapidamente disponível. Esse pequeno pormenor já fez com que várias vezes espreitasse a ver se estava a trabalhar a pessoa que me corta o cabelo como eu gosto e rapidamente desaparecer ao verificar que não.
Quando está a trabalhar, é a minha pequena roleta russa. Entro e começo a fazer figas para que ela fique liberta quando chegar a minha vez.
Esta semana passada não aconteceu (por um fio, diga-se, mas nem sequer estava mais ninguém à espera para eu poder passar a vez), pelo que avancei para a cadeira como o condenado para a forca, com a resignação do inevitável mas com a esperança da absolvição de última hora.
Fiquei mais tranquilo quando a menina perguntou:
-É sobre o comprido, não é?
-Sim, sim, o costume, pergunte aquela sra. que ela sabe como é, ela é que costuma cortar.
-Sim, não se preocupe.
Escusado será dizer que me devia ter preocupado. Gostava de saber porque é que o conceito de comprido das mulheres é substancialmente diferente do meu. Porra, há militares neste momento com maior cabelo que o meu! E uma coisa que os profissionais do corte não compreendem é que tirar pode-se sempre num instante, voltar a colocar demora mais uns meses.
Mas o que não tem remédio, remediado está. Devia haver alguém para vigiar estas actuações e dizer atempadamente "Não corte mais curto que isso"!
E se dúvidas houvesse quanto a ficar terrível, temos a prova dos nove que é infalível:
A minha mãe gostou e disse algo do género " FICAS COM UM AR MUITO MAIS LIMPINHO"!
E temos a prova real quando os colegas de trabalho dizem "PARECES DEZ ANOS MAIS NOVO".
Desconfiem sempre destas coisas.
Mas pronto, vai voltar a crescer e eu provavelmente, para não ir cortar a um sítio que não conheço porque pode ficar mal, vou quase de certeza cortar a um sítio que conheço onde pode (e com 90% de probabilidade vai) ficar mal.
Como disse no início, o problema do homem é mesmo ser um animal de hábitos!

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

AS ELEIÇÕES DA TERRA DA DISNEY

Foi hoje feita uma sondagem cá no burgo sobre quem gostaríamos que fosse o próximo presidente dos States. A sério, deu no telejornal, deve ser verdade. Às vezes é.
A princípio fiquei espantado.
Querem ver que já temos direito a voto naquele carnaval e ninguém me avisou?!
Depois pensei que naturalmente havia falta de notícias, era preciso preencher uns minutos de telejornal e lembraram-se desta. Podia-lhes dar para pior!
Podiam abrir com uma notícia do género: "HOJE NÃO FOI ASSALTADO NENHUM BANCO", que isso sim é notícia.
Realmente, nas eleições dos States, como na generalidade dos outros aspectos, a vontade dos portugueses é tão relevante como um mosquito atirado contra um párabrisas a 120 km/h.
Na realidade, nós nem nas nossas eleições votamos, quanto mais nas dos "camones". Mas em comum com os cowboys, quando votamos, na maioria esmagadora dos casos não fazemos a mínima idéia do porquê da escolha, é uma questão afectiva como ser do FCP ou gostar do amarelo.
Nada contra, cada um se deita na cama que faz. E não deixa de ser um critério.
Mas de repente fez-se luz. NÓS DEVÍAMOS TER DIREITO A VOTO NAQUELA TRAPALHADA. Primeiro ninguém gosta mais de uma canetinha, um porta-chaves, um emblema ou até um saco de plástico do que nós, desde que seja à borla. E parece que os gajos lá gastam uma pipa de massa nessas tralhas.
Segundo, seja quem for o palerma que ganhe (a avaliar pelas últimas eleições é o que tiver menos votos, vá-se lá saber porquê), os palermas deste jardim, ao mínimo espirro vão lá a correr com o lenço. E quando dermos por ela estamos metidos nalguma alhada, que aquilo lá não funciona muito pelas regras do bom senso. (nem pouco, agora que penso nisso, ainda nos vamos ver envolvidos na invasão da Jamaica, que esses gajos estão à pega que não tinham nada que ganhar a velocidade nos Jogos Olímpicos).
E acho que devíamos ter direito a escolher quem é o gajo que nos vai meter na trapalhada, só isso.
Por mim escolhia o Obama, tem um badge mais bonito e esse é um critério tão ou mais válido do que muitos que os autóctones vão usar.
E o facto de ser negro deve chatear uma série de gajos, o que confesso me dá um certo gozo.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

COISAS QUE FASCINAM

Não sei se alguém já reparou naqueles preçários que os cafés normalmente têm afixados.
Ultimamente (devo ter demasiado tempo livre, é a única explicação válida) tenho dado uma vista de olhos a esses papeluchos, que por uma razão que me escapa são normalmente azuis e por uma razão que não me escapa têm mencionados os nomes dos produtos e os respectivos preços de venda ao público.
A talho de foice também aparece sempre aquele cartaz magnífico que diz: " Os produtos expostos são para consumo do estabelecimento", que tenho sempre vontade de corrigir, trocando o "do" por "no" com um marcador preto grosso. Mas depois penso sempre que neste país provavelmente até os estabelecimentos bebem e remeto-me a uma introspecção profunda sobre o assunto. Mas isso são contas de outro rosário, voltemos à vaca fria.
Da observação dos referidos preçários, uma repetição saltou-me à vista.
De uma maneira geral, todos eles mencionavam ponche e o respectivo preço.
Qual vinho do Porto, qual quê! O ponche ao poder!
Qual arqueólogo em busca dum túmulo pré colombiano, comecei a prestar atenção e verifiquei que na generalidade dos estabelecimentos, numa prateleira normalmente inacessível sem recurso a uma escada Magirus, existe uma garrafa forrada a papel prateado, invariavelmente inviolada, com um aspecto de pertencer a um passado remoto e com um rótulo deliciosamente anacrónico onde se pode ler a palavra ponche.
Será que estou enganado e a procura é tanta que justifica a impressão no preçário, mas se quisermos uma sande de fiambre ou mais importante ainda um gin tónico, temos de perguntar o preço, porque esses artigos não têm saída que justifique a menção?
A minha grande dúvida é a seguinte:
- Alguém conhece alguém que tenha ouvido alguém dizer que algum dia, em algum café, alguém pediu um ponche e o bebeu?
Pois fiquem sabendo que um dia destes tenciono experimentar. Até pode ser bom. Ou não. Não faço idéia se hei-de chamar o Guiness Book ou o INEM, daí este pedido de feedback.
Mas um dia experimento e se sobreviver relato a experiência.
Quem sabe pode ser o início da reabilitação do esquecido ponche!

domingo, 7 de setembro de 2008

DESCONFIO SEMPRE DOS AVIÕES


Acho que o homem não foi feito para voar.
Chamem-me nomes, mas num rápido exercício de observação, não lhe detectei asas, pelo menos à vista desarmada. Daí esta extrapolação que carece de confirmação científica, é uma conclusão perfeitamente empírica.
Dito isso, não sou tão reaccionário que seja contra o avião, bem pelo contrário, sem ele ia ser muito mais complicado efectuar vôos de longo curso.
Na realidade, até vôo bastante mais do que gostaria, mas enquanto os dias de férias forem mais escassos que o alcóol em tempo de lei seca, que remédio se quero chegar a algum lado que valha a pena.
No entanto, tudo isto só serve para partilhar uma angústia.
Quando um gajo entra no avião e a geringonça está para levantar (e convém nunca esquecer que a maquineta é construída por quem levar menos dinheiro, o que nos dá sempre alguma garantia quanto à quallidade final do produto) é quando as hospedeiras, ou nos aviões mais tecnologicamente avançados (com dvd) a televisão, nos brindam com um espectáculo tipo Marcel Marceau.
Gira a coisa. Se bem que apesar de relatada em paralelo, dado que ninguém entende a linguagem naqueles sistemas sonoros (espero bem que o resto da máquina seja de melhor qualidade) conta seguramente como mímica.
Noutro dia, resolvi prestar alguma atenção às variedades, dado que já não tinha nada para ler e a hospedeira merecia uma observação atenta.
Fiquei perplexo. E não foi só com a hospedeira, que já de si justificava. Entre as tretas que explicavam, apercebi-me que tinhamos um colete salva-vidas debaixo da cadeira.
Vamos lá a colocar os pés em terra, passo a figura de estilo. Mas aquela treta é um barco ou um avião? Será que nos barcos estão a distribuir paraquedas?
Deixo aqui a questão à consideração de quem quiser meter uma cunha aos senhores da companhia, uma vez que não consegui encontrar o livro de sugestões.
E já agora, se puderem fornecer uma comidinha que se consiga identificar, já não digo que seja comestível, que não sou de abusar, a rapaziada ficava mais agradada.
Só digo isto porque tenho mau perder, nas duas últimas viagens perdi a aposta sobre que porcaria teria sido aquilo em vida. Ganhou a pessoa que disse vegetal, se bem que não deviam valer generalizações tão abrangentes. Continuo a dizer que parecia mineral, e por mais que digam não me convenço do contrário.
Já agora, a pedido de um amigo, para a próxima, e apesar de não ser kosher e obrigar a prato alternativo por motivos religiosos, permitam-me sugerir rojões.
Um bem hajam pela atenção dispensada.

PELO DIREITO À PREGUIÇA

Só para clarificar eventuais dúvidas, esclareço que não gosto de correr.
De uma vez por todas, não vou fazer os 5 km de não sei quê, nem a meia maratona do não sei quantos e muito menos a maratona do raio que o parta.
Ultimamente, parece que toda a gente gosta de correr. Ainda bem.
Eu não gosto e não peço desculpa por isso. Não se pode estar em todas.
Nunca gostei, nem quando estava em forma, acho chatíssimo, mas respeito a liberdade de quem gosta. Nesse espírito, e por reciprocidade, gostava que me deixassem em paz. Sempre que se aproxima a corrida do dia de não sei quem ou em homenagem a fulano, por favor não se cansem a perguntar-me. Normalmente respondo que nesse dia não posso, mas na realidade neste século não quero. Quem sabe para o próximo, as pessoas mudam...
Poupem o fôlego para a corrida que podem precisar. Eu não vou! Tão certo como a morte e os impostos!
Ainda por cima, essas coisas são sempre a horas impróprias. Então e o merecido descanso?
É verdade que o tempo passa a correr, mas por mais que tente não vou conseguir apanhá-lo. Logo, porquê tentar?
Além do mais, por muito que insistam, há meios mais rápidos e cómodos de chegar do ponto A ao ponto B e eu sou uma pessoa essencialmente pragmática (para não chocar os ecologistas, sensibilidades sempre apuradas, alguns desses meios são não poluentes).
Assim, façam o favor de registar o seguinte:
Estou normalmente disponível para eventuais almoçaradas de confraternização após a corrida, desde que não sejam muito cedo.
Mas por favor não me perguntem mais se vou ou não correr.
Para que conste e de forma definitiva a resposta é um redondo NÃO!!!
Dito isto, desejo a todos uma boa corrida.
E para que conste, gosto de ver atletismo, mesmo a parte das corridas. Preferencialmente a partir do meu sofá!

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

A CULTURA ACESSÍVEL

Ontem à noite comprei um livro.
Tinha intenção de escrever aqui umas patacoadas mas caí na asneira de o começar a ler e já não fiz mais nada.
Simplesmente viciante!
O livro chama-se: "Platão e um ornitorrinco entram num bar..." e é da autoria de Thomas Cathcart e Daniel Klein.
Explica as diversas correntes, princípios, ferramentas e pensadores da filosofia, recorrendo a exemplos ilustrados através de anedotas. De rebolar a rir.
A título de aperitivo, vejam a explicação do racionalismo:
"O optimista diz: - o copo está meio cheio"
"O pessimista diz: - o copo está meio vazio"
"O racionalista diz: - o copo tem o dobro do tamanho necessário"
É isto que a cultura deve ser.
Divertida, agradável e inteligível.
E antes que me esqueça, o livro é dedicado a Marx (Groucho e não Karl, obviamente).

FAÇAM O FAVOR DE IR VER ISTO


Acabei de ver este filme.
Confesso que normalmente sou um pouco preconceituoso relativamente ao cinema nacional e quase que me tiveram de arrastar. Acho que foi trauma por nos tempos de liceu ter sido obrigado a ver a versão integral do amor de perdição.
Em boa hora fui.
Duas horas e meia de filme e nem me lembrei que fumava, o que em mim, acreditem, não é nada fácil.
Qual Kusturica com banda sonora de Bregovic, qual balcãs, qual quê!
Miguel Gomes com banda sonora de Marante e dos Diapasão em Arganil!
A não perder.
Verifiquem pessoalmente.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

SÁBIO CONSELHO

Uma destas noites, vinhamos duma jantarada em Esposende, quando deparei com este magnífico exemplo de criatividade.
Pedi para parar o carro (na altura ainda bebia e como tal não conduzia em jantaradas) e tirei esta fotografia ao camião, mais para no dia seguinte comprovar que não se tratou de alucinação alcoólica do que por outra razão qualquer.
Agora, com a frieza que só o tempo decorrido permite, volto a debruçar-me sobre o assunto.
Apesar de nunca ter visto a questão nestes termos, não deixa de ser verdade que se trata de boa publicidade, senão vejamos:
- Fiz parar um carro não só para ver mas também para fotografar;
- Coloquei a foto na net;
- A mensagem é honesta e pedagógica e reveste um caracter mais complexo do que uma primeira análise deixa transparecer;
- Plasticamente é sóbrio e a foto é de boa qualidade;
Por fim, convenhamos que se trata de um tema de merda que não é fácil publicitar!

FESTA DA MAGUI


Porque é pessoal porreiro!
Porque é gente divertida!
Porque é no mesmo dia da Gigi e vai-se conseguir chegar ao bar!
Porque não vai ser um S. João sem martelinhos!
Porque o flyer está giríssimo com as florzinhas dos De La Soul!
Porque é gente com bom gosto!
Vivamente recomendado!!!

A LATA DESTES GAJOS


Há determinadas coisas que me irritam. Direi mesmo mais, levam-me aos arames. Arre!!!
Um destes dias, estava num jantar de amigos e alguém pediu rojões à Minhota.
No caso em apreço, a pessoa em causa não gosta de sangue, pelo que pediu sem sangue. Ainda teve sorte em não gostar de sangue.
Se alguma vez alguém viu um olhar de uma junta médica a avaliar uma insanidade, pode ter uma idéia da expressão da empregada a informar pedagogicamente:
- Agora os rojões são sempre sem sangue, substituímos por chouriça de sangue, sabe que a ASAE não permite sangue nos rojões...parece que é pouco higiénico!
Gerações inteiras que comeram sangue nos rojões (eu próprio, se bem que tardiamente e só depois de me apontarem uma pistola, tornei-me um grande fã de papas de sarrabulho) estão condenadas ao sétimo círculo do inferno e à desaprovação da sociedade.
Marginais, é o que somos, olhados de esguelha pelos europeístas robotizados de modelo normalizado.
Reflexo do país que nos tornamos, em que séculos de cultura popular são por decreto esterilizadas e empacotadas de forma standard para servir a quem quiser ou não tiver alternativa.
É um dos casos em que exijo o meu direito à falta de higiene. Quem é que tem alguma coisa a ver com o que como ou não?
Num futuro não muito longinquo, parece que estou a ver o sr. Manuel do talho, qual dealer de substâncias psicotrópicas, a entregar discretamente um saco de sangue guardado debaixo do balcão à Sra. Maria, um tanto ou quanto nervosa a receber o ilícito, não vá a polícia da salubridade apanha-la em flagrante delito.
E por falar em falta de higiene, pode ser só impressão, mas serei só eu que acha verdadeiramente nojento o sistema de abertura das latas de bebidas?
A parte que está exposta ao pó e sabe-se lá mais a quê, para não falar dos dedos do empregado, é a que entra dentro da lata e em contacto com a bebida.
A ASAE podia ir chatear esses gajos da latinha, que esses sim podem pagar a concepção de um sistema mais limpinho de abertura.
O país que um dia seremos iria em devido tempo reconhecer.
Eu certamente agradecia.
Ainda hoje um empregado abriu-me a lata, com particular cuidado em carregar bem para dentro, para ficar bem aberto.
Um bem haja pela elevada ética profissional demonstrada, que espero seja extensível à lavagem das mãos quando mexe em dinheiro, mas por qualquer razão que me escapa, duvido sinceramente.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

O ANFIOXO


Para quem não teve biologia no 12º ano, esclareço que o anfioxo é um animalzinho que algumas gerações de estudantes foram obrigados a conhecer do direito e do avesso. Até bem pouco tempo atrás, não fazia idéia para que fins tal pérola de conhecimento me poderia servir.
Felizmente, cépticos como eu têm os dias contados. Isso de duvidar dos senhores do Ministério da Educação que elaboram os conteúdos programáticos, e da sua vasta experiência de vida, é crime que não passa sem o merecido castigo.
Isto porque, um destes dias, no meio de uma cena de copos, alguém (para ser honesto fui eu), mencionou o dito bichinho.
Estavam presentes outros desgraçados, digo, antigos estudantes que no âmbito da multidisciplinaridade tiveram de gramar a mesma pastilha, e finalmente, ao fim de todos estes anos, o anfioxo foi tema de conversa (se bem que de copos, não deixa de ser conversa e até normalmente das mais interessantes). A idéia que me deu foi que os participantes se sentiram aliviados por poderem tirar do peito a opressão da inutilidade, convertendo-a em utilidade entre duas goladas de gin.
Assim, venho aqui fazer o mea culpa e agradecer aos senhores do Ministério que tão bem prepararam para a vida prática gerações de estudantes, por mais esta oportunidade de brilhar ao saber que o anfioxo tem notocórdio. (Pelo menos na altura tinha).
Um bem hajam e continuem o bom trabalho!
O país que um dia seremos ficará reconhecido!