terça-feira, 7 de outubro de 2008

CRISE DE NERVOS

Não tenho nada a ver com a crise do sistema financeiro mundial!
Nem é nada comigo, não fui eu que a provoquei, (embora espere que não me faça perder o emprego e o pouco dinheiro que tenho), mas há coisas que me fazem confusão.
Na verdade, um amigo mandou-me hoje uma história brasileira via e-mail que mais ou menos explica a crise de uma forma simplista mas verdadeira na essência, que tomo a liberdade de reproduzir:
O Sr. Zeca tem um bar, na Vila Carrapato, e decide que vai vender cachaça fiada 'na caderneta' aos seus leais fregueses, todos bêbados, quase todos desempregados.
Porque decide vender a crédito, ele pode aumentar um pouquinho o preço da dose da branquinha (a diferença é o sobrepreço que os pinguços pagam pelo crédito).
O gerente do banco do seu Zeca, um ousado administrador formado com curso de mba, decide que as cadernetas das dívidas do bar constituem, afinal, um activo recebível, e começa a adiantar dinheiro ao estabelecimento, tendo o pendura dos pinguços como garantia.
Uns seis executivos de bancos, mais adiante, lastreiam os tais recebíveis do banco, e os transformam em CDB, CDO, CCD, UTI, OVNI, SOS ou qualquer outro acronimo financeiro que ninguém sabe exactamente o que quer dizer.
Esses adicionais instrumentos financeiros, alavancam o mercado de capitais e conduzem a operações estruturadas de derivativos, na BM&F, cujo lastro inicial todo mundo desconhece (as tais cadernetas).
Esses derivativos estão sendo negociados como se fossem títulos sérios, com fortes garantias reais, nos mercados de 73 países.
Até que alguém descobre que os bêbados da Vila Carrapato não têm dinheiro para pagar as contas, e o Bar do seu Zeca vai à falência.
E toda a cadeia faliu !... muito simples...!!!
Isto explicado, há algumas coisas que mais do que a crise propriamente dita, me tiram do sério.
A primeira é que ainda não percebi que raio é que fazem as autoridades de supervisão, que não aprenderam nada com falências como as do Barings e, casa roubada trancas à porta, vêm agora alertar para a crise que atravessamos, coçando a cabeça como um puto de três anos quando um ilusionista tira um coelho da cartola, ainda sem terem a mínima noção de como é que aquilo aconteceu.
A segunda é que os governos, para tentarem evitar uma corrida aos bancos, afirmam em praça pública garantir os depósitos, não se sabe bem como, com que recursos, nem em que termos (tinha a idéia que o Estado somos todos nós, mas devo estar mais uma vez equivocado), quando se começa a ver os próprios estados como é o caso da Islândia, há poucos meses um dos mais ricos do mundo, prestes a declarar bancarrota.
A terceira é que ninguém é responsabilizado pelo sucedido, sendo que ao que agora se sabe, alguns administradores de bancos já falidos à altura se remuneraram com a mesma sofreguidão que um náufrago do deserto bebe ao encontrar um oásis ao fim de três dias sem pinga de água.
E mais giro ainda, quando inquiridos sobre a situação, dizem que não tinham forma de a prever. Porra, se administradores não têm, proponho para CEO o bruxo de Fafe e para vogal a Maya, que apesar de tudo sempre podem lançar as cartas e de certeza não se enganam por muito mais. E não são tão bem pagos...
Ainda outra coisa que me custa a entender é que todos os grandes arautos do liberalismo económico são os que agora clamam pela intervenção do Estado para deitar a mão. Bolas, então o que é que aconteceu ao livre funcionamento do mercado e ao Estado não ser um operador legítimo por distorcer a realidade da oferta e da procura? A febre das privatizações passou à das nacionalizações? Os lucros são meus enquanto investidor mas os riscos são do Estado? Grande negócio, não há dúvida, assim também quero!

6 comentários:

Eduardo Santos Costa disse...

Bem visto, mas a verdade é que parece que o Liberalismo colocou o Estado refém do próprio capital senão repara – se o Estado não assume os maus créditos (adoro este terminologia) o mercado funciona logo os bancos fecham – desemprego para todos; o estado intervêm, a coisa aguenta = impostos para todos – lucros para os mesmos. Parece fácil escolher, pergunta ao Banco que é dono da cadeira onde escreves estas brilhantes missivas, ou ao dono da hipoteca da tua casa. Quando tudo isto passar vamos ver o que dá esta febre reguladora…

sss disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
sss disse...

bem, terei de o dizer aqui, poderia não ser agora mas pronto(S).
O Capitalismo (e a sua ideologia, o Liberalismo) estará exausto?
Preciso de respostas, daqui a pouco estarei a* chamar por Lenine!

*faltava um "a"

MS disse...

Nada exausto, exausto ando eu de o aturar, mas não tenho remédio.
Ainda vais ter de o aguentar muitos anos porque pelos vistos tem sempre quem lhe deite a mão.
Já agora, e para que conste, apesar da casa ter hipoteca, a cadeira já está paga.

Eduardo Santos Costa disse...

Eu referia-me à cadeira do teu trabalho...

MS disse...

No trabalho, trabalho que é o que faz avançar o país.
Estas coisas são em casa, nos poucos momentos de lazer que ainda me restam.