quinta-feira, 23 de outubro de 2008

MACACOS ME MORDAM

Em tempos trabalhei numa empresa que tinha um corredor
que se devia a todo o custo evitar.
Como todos os maçaricos, quando entrei para a dita, alguém me apadrinhou e logo no primeiro dia fez-me o precioso aviso:
-"Quando passares naquele corredor, olho vivo e pé ligeiro. Foca-te no que vais fazer e não fales com ninguém sobre qualquer outra coisa, nem que sejam os resultados do futebol!" (e não falemos de coisas tristes.)
Como qualquer maçarico que se preze, não fiz grande caso do saber de experiência feito, devem ser coisas de ressaviados, etc e tal, eu é que sei.
Aprendi à minha custa. Aquilo era a "ala dos calaceiros", que nalgumas empresas toma a designação de unidade de queimados. Grosso modo, é aquela rapaziada que por culpa própria, por ter pisado os calos a quem não devia, por ter entrado num gabinete sem bater e ter visto algo que não devia (para quem não teve recursos humanos na faculdade há carreiras verticais e horizontais e aqui não estou a gozar), ou simplesmente porque teve azar, estava na chamada prateleira.
Reconheciam-se por cheirar a copos logo de manhã, o que os distinguia de pessoas como eu que ainda cheiravam a copos de manhã (a sério, o pequeno almoço deles era um tricofaite, bebida composta por cerveja com martini bebido no tasco em frente) e por geralmente andarem com os mesmos papéis na mão dias a fio, geralmente já amarelos porque era no tempo em que os faxes ainda usavam papel térmico (gozem à vontade mas ainda me lembro do telex).
A questão fulcral é que se entrava no corredor à vontade e saía-se com dois ou três macacos pendurados no ombro (entenda-se problemas para resolver que há partida não nos diziam respeito e normalmente eram bicudos).
Anos mais tarde tenho este exemplo como uma valiosa lição de vida, aprendida às minhas custas por não querer dar ouvidos à experiência.
E lembro-me de uma professora de Ciências da Natureza que tive, que apesar de nunca me ter ensinado nada de monta no capítulo da cadeira, deu-me uma valiosa lição de vida que mais de vinte anos passados ainda recordo.
Ao mandar-me para a rua por mau comportamento, disse-me a seguinte frase, que cada vez faz mais sentido:
-"Sabe, uma pessoa quando nasce, nasce incendiário, mas quando morre, morre bombeiro."
O problema é que só se começa a perceber os mais velhos quando já se é mais velho!
Como dizia o outro, a juventude é desperdiçada nos jovens.

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