segunda-feira, 29 de setembro de 2008

A CORRIDA AO OURO NEGRO

Uma das coisas que mais dificuldade tinha em compreender, juntamente com o conceito de série em análise matemática (acho que isso ainda não entendi, se bem me lembro era uma coisa tipo soma de sucessões que se tinha de provar se era divergente, convergente ou o raio que as parta que não interessava nem ao menino Jesus), era aquela tradição nacional da corrida às bombas que ocorria nos saudosos tempos em que os combustíveis tinham dia e hora marcada para aumentar, o que acontecia uma a duas vezes por ano na pior das hipóteses.
Nas vésperas dessas alturas, havia centenas de carros em fila durante horas a gastarem dois euros de combustível para poupar euro e meio num depósito cheio e condutores a darem cabo das meninges a discutir com a patroa enquanto ela fazia tricot no banco do pendura, a ouvir o Sala na Renascença, em vez de ir preparando os garrafões para atestar que tem de se aproveitar enquanto se pode.
Posso estar a meter o pé na argola, que já lá vão uns anitos e se calhar ainda nem havia euros, mas até hoje sempre pensei que esta treta era uma ilustação do paradoxo de Zenão, que não era significativo, porque, no limite, iria sempre ser preciso meter gasolina ao novo preço. Mas era uma tradição e a tradição deve ser respeitada, senão o que será da cultura popular?
Hoje em dia, fruto da mudança dos tempos, o preço varia frequentemente e curiosamente nos dois sentidos, se bem que lixe mais vezes o mexilhão, e provavelmente mais vezes do que as justas.
E o português teve uma epifania e criou seu próprio mercado de futuros, para se agarrar como pode à tradição ancestral!
Há uma petrolífera que fixa os preços às Segundas feiras. Há pessoas que andam toda a semana a verificar as cotações do Brent, qual grandes investidores, para tentarem adivinhar o sentido em que vai variar o preço. Se apostam na subida, é vê-los a atestar Domingo à noite. No caso inverso é tudo para a bomba na Segunda. Chegam a arriscar duas descidas consecutivas e aí, em vez de atestar na Segunda, metem só o estritamente necessário para chegar à Segunda seguinte.
E escrituram perdas e ganhos, qual revisor oficial de contas.
Digam lá que não somos um povo imaginativo, que na desgraça consegue inventar um passatempo com um custo, na pior das hipóteses de oportunidade e na melhor das hipóteses com um lucro que dá para uma mini e uma bifana por semana.
Só me admira como é que com tanto expediente continuamos uma cambada de tesos!
Bom, agora vou ver como fechou hoje o Brent...

2 comentários:

Eduardo Santos Costa disse...

Como o futebol não está a correr muito bem cá estou eu a comentar as incidências do Crude nas terras do Tugal. Eu gosto mesmo é quando se atingem novos máximos diários, estas ultimas descidas para mim têm vindo a ser um drama. Estava ver que iríamos finalmente resolver duma só vez alguns problemas: o aquecimento global, a dependência de petro ditaduras, a importação de ferro velho circulante alemão e a qualidade de vida nas cidades. Claro que quem me conhece sabe que eu sou um vaidoso detentor de um Galp frota da empresa mas concordarão que quem fala assim não é gago.

MS disse...

Nem me fales do futebol, acho que prefiro a subida da gasolina, mesmo não tendo o cartão mágico.
Aqueles moços é que precisavam de meter gota. Parece que o Arsenal estava a usar aditivada...